Pesquisador
do CNPq em parceria com norte-americanos descobre novos caminhos
para estudos contra o câncer
Os pesquisadores têm um novo alvo
nos estudos sobre o câncer. A descoberta foi publicada na Revista
Nature, de dezembro de 2008, no artigo do pesquisador do
CNPq e da Divisão de Hematologia do Departamento de Clínica Médica
da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (FMRP-USP), Eduardo
Rego, que apresentou as evidências do envolvimento de uma proteína
ribossomal, denominada L24, no desenvolvimento do câncer do sistema
linfático, os linfomas.
Estes resultados representam um novo conceito nos estudos sobre
câncer e poderão ser a base para o desenvolvimento de novos medicamentos.
A pesquisa, que já é
resultado do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de
Células-Tronco e Terapia Celular (INCTC), foi realizada em
parceria com os pesquisadores Davide Ruggero e Maria Barna, da Universidade
de São Francisco, na Califórnia, e representa o primeiro estudo
sobre o papel da L24 e dos ribossomos na gênese do câncer.
“O conceito clássico que temos
de câncer é uma doença genética, hereditária, que na maioria das
vezes vem de mutações no DNA. Como o fluxo da informação genética
seria do DNA, para o RNA e para a proteína, assumíamos que uma vez
mutado o DNA, o resto simplesmente carregaria a informação errada”.
Neste sentido, as pesquisas sobre câncer primordialmente, na fase
da quimioterapia, buscavam drogas que simplesmente inibiam a divisão
celular, mas este mecanismo é extremamente inespecífico, matando,
a grosso modo, qualquer célula que se divide, explicou Rego.
Depois, durante muito tempo,
as pesquisas procuravam criar terapias gênicas para “consertar”
o gene mutado, mas até agora estas abordagens tiveram sucesso limitado
e não avançamos além dos modelos animais de cânceres humanos. As
pesquisas de Eduardo Rego, que já duram cerca de sete anos, focaram
outra linha de estudo: as proteínas ribossômicas. “Conseguimos demonstrar
que a parte da síntese protéica também é inteligente e, se alterada,
ela vai fazer parte da gênese do câncer”.
A pesquisa
Foi escolhido um modelo clássico
para o estudo: os linfomas associados ao aumento da expressão de
um gene, o Myc, (um protoncogene). Segundo o pesquisador, os linfomas
são o quinto tipo de câncer mais freqüente no mundo, e em vários
casos, a doença está associada à uma quebra cromossômica, que causa
o deslocamento do Myc e sua fusão em uma outra região do genoma.
Pela “influência desta nova vizinhança”, o Myc acaba sendo expresso
em níveis aumentados, o que leva a uma replicação anormal da célula.
Rego revela que as pesquisas
anteriores não mostram exatamente como funciona a informação para
a célula se dividir. “Nós vimos que na célula do linfoma primeiro
há um aumento da síntese de proteína, que se acumulam até um nível
crítico refletido no aumento do tamanho da célula, e ao atingir
este limite ela tem que se dividir”.
Esta síntese de proteína, que
ocorre na célula, é feita nos ribossomos, pelas chamadas proteínas
ribossômicas. Elas não sintetizam as proteínas indiscriminadamente,
e o balanço entre a síntese de proteínas dependentes de seqüências-guia
chamadas Cap e aquela de proteínas dependentes de seqüências-guia
chamadas IRES é essencial para a estabilidade do genoma e a correta
divisão celular. “Nós conseguimos demonstrar que a proteína ribossômica
L24 funciona como um reostato. Na verdade, ela recebe a informação
a partir do myc, mas sua ação é fundamental para determinar o balanço
CAP/IRES e conseqüentemente o comando de dividir”.
Clique nas imagens para ampliar
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Figure 1 | Myc-induced
increases in protein synthesis regulates
B-lymphocyte size, division and apoptosis before lymphomagenesis. |
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Figure 2 | The ability
of Myc to augment protein synthesis is necessary for
its oncogenic potential. |
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Figure 3 | Myc hyperactivation
impairs the translational switch from capto
IRES-dependent translation control during mitosis and blocks
mitotic
translation of the Cdk11 kinase. |
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Figure 4 | Aberrant
translation control downstream of Myc activation
underlies cytokinesis defects and genome instability. |
Teste
Os testes foram realizados
com camundongos transgênicos que superexpressam o Myc e consequentemente
desenvolvem o linfoma. Os autores produziram camundongos geneticamente
modificados para expressarem menos a proteína ribossomal (camundongos
com haploinsuficiência do gene para a L24) e os cruzaram com os
transgênicos. O cruzamento dos gene de altos níveis de Myc com o
níveis baixos de proteína ribossômica resultaram no bloqueio da
ação maligna do Myc, pois os filhotes não desenvolveram tumores,
apesar de possuírem a mensagem para desenvolver os linfomas.
“Percebemos que esse mecanismo
ribossômico é realmente inteligente, capaz de controlar a divisão
celular, e que ao manipularmos a expressão da L24 revertemos a transformação
maligna, neste exemplo aquela causada pelo Myc”, disse o pesquisador.
Próximos passos
“Com este novo alvo levantamos
agora possibilidades de estudo para um novo tratamento com a diminuição
da proteína ribossômica”, disse. Rego explicou que a pesquisa partirá
agora para confirmar a importância dessa proteína nas amostras com
seres humanos. “Vamos testar in vitro, usando amostras de
linfomas, se o mesmo mecanismo existe nas células humanas, e usar
RNA interferências para diminuir a expressão da L24 e verificar
se isto leva a regressão completa do tumor”, conclui.
Confira o artigo completo em:
http://www.cnpq.br/saladeimprensa/noticias/2009/0119_artigo.pdf
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