Brasil
ganha fábrica de biotecnologia de última geração
Fábrica brasileira de biotecnologia
Com
o objetivo de reduzir a dependência brasileira de importações
e ofertar kits de diagnóstico para diferentes programas do
Ministério da Saúde, foi inaugurada ontem (4/8), a
Planta de Insumos para Diagnósticos em Saúde - uma
moderna fábrica de biotecnologia, com 2 mil metros quadrados.
A planta industrial de última geração, localizada
no Paraná, foi projetada com base no conceito de multifuncionalidade,
ou seja, permitirá realizar, no mesmo espaço, atividades
de desenvolvimento, inovação e produção
de insumos para kits de diagnóstico, com tecnologias de fronteira
e total aplicabilidade aos programas do Sistema Único de
Saúde (SUS).
Durante o evento, também foi inaugurado o Instituto Carlos
Chagas (ICC), unidade técnico-científica da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Paraná, onde serão formalizadas
cooperações técnicas e científicas com
diferentes universidades paranaenses.
Teste molecular do HIV
Esta infraestrutura começará a ser utilizada, ainda
este ano, na produção de insumos para o kit brasileiro
NAT HIV/HCV, teste molecular para detecção dos vírus
da Aids e da hepatite C. Ele será usado na triagem de bolsas
de sangue na hemorrede nacional, ou seja, a nova tecnologia, genuinamente
brasileira, vai trazer mais segurança para as transfusões
sanguíneas.
Isso porque o NAT, se comparado ao teste tradicional, tem a vantagem
de reduzir a chamada janela imunológica - período
em que já ocorreu a infecção, mas o vírus
ainda não é detectado no exame de sangue. Com o novo
kit, a janela imunológica para a detecção do
vírus da Aids, que hoje é de 21 dias, cairá
para oito dias.
No caso do vírus da hepatite C, o tempo será reduzido
de 72 para 14 dias. Estas reduções são possíveis
porque o NAT detecta o material genético dos vírus,
enquanto o teste tradicional depende do surgimento de anticorpos.
Exame do vírus H1N1
A planta também poderá realizar, em breve, a produção
de insumos para diagnóstico molecular da influenza A (H1N1).
Os pesquisadores estão validando uma tecnologia nacional
para a produção dos principais insumos que compõem
o kit de diagnóstico.
Tais insumos, chamados primers e probes, são necessários
à realização de PCR em tempo real - técnica
utilizada para detectar o material genético do vírus
influenza A (H1N1) nas amostras dos pacientes.
No momento, os pesquisadores se preparam para avaliar a sensibilidade
e a especificidade dos reativos que estão em fase de testes.
Se os resultados forem satisfatórios, os kits de diagnóstico
fornecidos pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) poderão ser substituídos por similares nacionais,
o que significará maior autonomia para o sistema de saúde
brasileiro, economia de recursos públicos e ampliação
da capacidade de análise de amostras.
Microarranjos líquidos
Outros produtos, já em fase avançada de desenvolvimento,
entrarão no portfólio da Planta de Insumos para Diagnósticos
em Saúde, com destaque para o multiteste em plataforma de
microarranjos líquidos. Trata-se de um novo sistema de diagnóstico
molecular capaz de testar, ao mesmo tempo, até 100 doenças
em até 100 indivíduos - veja mais informações
sobre esse teste inovador: Exame molecular diagnostica até
100 doenças ao mesmo tempo.
E os resultados ficam prontos em cerca de 30 minutos. Inicialmente,
o multiteste se concentrará no diagnóstico de HIV
1/2, HTLV I/II, sífilis, doença de Chagas e hepatite
B - doenças que podem ser transmitidas pelo sangue e, portanto,
são de grande interesse para a hemorrede brasileira.
Espectrometria e citometria de fluxo
O Instituto Carlos Chagas (ICC), nova unidade da Fiocruz no Paraná,
ocupa uma área de 2,4 mil metros quadrados, com possibilidades
de expansão para 4 mil metros quadrados.
Nesse espaço, funcionam atualmente oito laboratórios:
Bioinformática; Biologia Celular e Microscopia; Biologia
Molecular de Tripanossomatídeos; Virologia Molecular; Regulação
da Expressão Gênica; Genômica Funcional; Células-tronco;
e Laboratório de Desenvolvimento de Insumos. Além
das facilidades para as atividades de pesquisa correntes, o ICC
conta com um laboratório de Nível de Biossegurança
3 (NB-3), numa escala que vai até 4, e recebeu investimentos
para a instalação de novas plataformas tecnológicas.
À plataforma de microarranjos, somam-se as de sequenciamento
de DNA, espectrometria de massa (método para identificar
os diferentes átomos que compõe uma substância),
microscopia confocal (técnica na qual um pequeno ponto é
iluminado e observado de cada vez, de modo que uma imagem é
construída por meio da varredura ponto-a-ponto do campo)
e citometria de fluxo (técnica para contar, examinar e classificar
partículas microscópicas suspensas em meio líquido
em fluxo).
Para citometria de fluxo, o aparelho FACS ARIA 2 instalado no ICC
é, hoje, único no Brasil. Todas essas facilidades
de pesquisa são aproveitadas em diferentes frentes de trabalho
do ICC, que coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia
(INCT) em Diagnósticos para Saúde Pública,
uma rede multi e interdisciplinar composta por nove instituições
entre universidades e institutos de ciência e tecnologia.
Dengue e hantavírus
Na área de virologia do ICC, por exemplo, destacam-se os
projetos sobre dengue e hantavírus. Há estudos sobre
os mecanismos das doenças, medicamentos antivirais, a filogenia
(relações de parentesco) dos vírus e sua epidemiologia
molecular, bem como sobre kits de diagnóstico.
No caso do hantavírus, já foi desenvolvido um kit
de diagnóstico que está sendo produzido no ICC e distribuído
para os Laboratórios Centrais de Saúde (Lacens) de
vários estados pelo Ministério da Saúde.
Pesquisa com células-tronco adultas
Já a pesquisa básica com células-tronco adultas
visa elucidar os mecanismos de diferenciação destas
células em células cardíacas.
O Trypanosoma cruzi, protozoário causador da doença
de Chagas, também tem sido alvo de vários projetos,
com o intuito de estudar o processo de diferenciação
deste parasito e seus mecanismos de interação com
as células do hospedeiro. Neste caso, utiliza-se uma abordagem
de genômica funcional, onde se investiga a expressão
temporal de genes do parasito e do hospedeiro, com o objetivo de
identificar novos alvos potenciais para drogas contra a doença
de Chagas.
Para a realização destas e de outras atividades,
o ICC tem, atualmente 12 pesquisadores da Fiocruz em um universo
de cerca de 100 colaboradores, entre pesquisadores, técnicos
e estudantes, destacando-se a existência de 26 doutores e
15 mestres na equipe. A formação de recursos humanos
é uma preocupação do ICC, que planeja para
2010 o lançamento de um curso de pós-graduação
(mestrado e doutorado) em biociências e biotecnologia. Também
estão nos planos da unidade parcerias com países do
Cone Sul.
Cooperação em biociências e biotecnologia
Além da assinatura dos acordos para a instalação
da Fiocruz no Paraná e para a formação do consórcio
tecnológico para a gestão da Planta de Insumos para
Diagnósticos em Saúde, também foi celebrado
um acordo entre o ICC/Fiocruz, a Secretaria de Estado da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior do Paraná, o Tecpar e seis universidades
estaduais.
O objetivo central é a cooperação institucional
para o desenvolvimento científico e tecnológico do
Estado do Paraná, no campo das biociências e da biotecnologia
em saúde. O acordo abrange a formação de recursos
humanos em nível de pós-graduação strictu
sensu; o desenvolvimento conjunto de programas de pesquisa em áreas
prioritárias de saúde; o desenvolvimento tecnológico
de produtos e insumos de interesse dos programas de saúde
pública; e o intercâmbio de pesquisadores.
A nova fábrica é fruto de um consórcio tecnológico
que envolve duas unidades da Fiocruz - o ICC e o Instituto de Tecnologia
em Imunobiológicos (Biomanguinhos) -, a Empresa Brasileira
de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás) e o Instituto
de Tecnologia do Paraná (Tecpar), com o patrocínio
do Ministério da Saúde e do Governo do Paraná.
O operador da planta será o Instituto de Biologia Molecular
do Paraná (IBMP), uma associação civil de direito
privado, de interesse comunitário, sem fins lucrativos, criado
por meio de uma parceria da Fiocruz com o Governo do Paraná,
por intermédio do Tecpar.
Fernanda Marques
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