UFMG
faz pesquisa pioneira para tratamento da dengue
Estudo foi publicado esta semana na revista americana PNAS
da redação
Belo
Horizonte. Há dois anos uma equipe de cientistas da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolve uma pesquisa que tem como
objetivo diminuir a gravidade da dengue, inibindo seus sintomas
mais graves e complicações clínicas.
Agora, o trabalho, coordenado por Mauro Teixeira, professor do
Instituto de Ciências Biológicas (ICB-UFMG), recebe
o devido reconhecimento com a publicação de um artigo
na revista "PNAS" (Proceedings of the Nacional Academy
of Sciences of the United States of America), intitulado "Essential
role of platelet-activating factor receptor in the pathogenesis
of dengue virus infection".
O artigo publicado na "PNAS", revista de elevado fator
de impacto no meio científico. mostra que a molécula
PAF (sigla em inglês para Fator Ativador de Plaqueta), agindo
no seu receptor (PAFr), é fundamental para a doença
dengue se manifestar nos camundongos. O estudo comprovou que uma
resposta inflamatória exacerbada pode explicar a gravidade
da doença.
Uma condição muito semelhante a que se observa em
seres humanos: a resposta inflamatória que se segue à
infecção é importante para a existência
de vários sintomas e a morte causada pela dengue grave.
Bloquear a ação dessa molécula produzida pelo
sistema imune é a estratégia terapêutica contra
a dengue desenvolvida pelos pesquisadores. "A terapia que desenvolvemos
não impede a infecção pelo vírus, mas
atua como antidoença, revertendo todos os sintomas e evitando
a evolução do quadro clínico típico
da dengue. É possível que possa se tratar a dengue
grave ao se impedir o desenvolvimento desta resposta inflamatória
grave. O PAFr pode ser um dos alvos, mas ainda precisamos confirmar
em seres humanos", comenta Mauro Martins Teixeira, professor
do departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB.
Eficácia. O trabalho, desenvolvido em conjunto com as professoras
Danielle da Glória de Souza, do departamento de Microbiologia
do ICB, e Lirlândia de Sousa, do Colégio Técnico
da UFMG (Coltec), já é considerado por pesquisadores
como a mais eficaz proposta surgida no meio científico para
combater a doença e mostra fortes evidências da aplicabilidade
da terapia em curto prazo para humanos, especialmente em função
de dois fatores.
Um dos aspectos facilitadores para essa transposição
é o fato de o método utilizar um fármaco com
uso na área médica já testado clinicamente
e que não produz efeitos colaterais em humanos. "Ele
foi desenvolvido nos anos 80, mas não existe como medicamento
disponível em farmácia, pois não apresentou
eficácia para a asma, deficiência para a qual foi formulado",
relata Teixeira.
De acordo com o pesquisador, esse fármaco, administrado
por via oral, atua como antagonista do receptor do Fator Ativador
de Plaqueta (PAF, sigla em inglês para Platelet Activator
Factor). Isso significa que ele é capaz de inibir a ação
do receptor dessa molécula de lipídeo. Em decorrência
de lesões sofridas pelo organismo, como aquelas causadas
pelo vírus da dengue, o PAF é rapidamente produzido
pelo sistema imune.
Outro aspecto salientado pelo pesquisador, sobre semelhanças
do papel do mediador em organismos humano e animal, tem origem na
literatura médica científica. Segundo Mauro Teixeira,
já se sabia que o PAF induz sintomas que se assemelham aos
da dengue, ao ser injetado em animais e seres humanos.
Eficácia
70% das cobaias infectadas pelo vírus tipo 2 não desenvolvem
a doença.
Ação
Sintomas da doença são inibidos
Até o momento a pesquisa desenvolvida na UFMG conseguiu alcançar
índices bastante satisfatórios. Ensaios pré-clínicos
em modelos animais mostram que, com o novo tratamento, 70% das cobaias
infectadas pelo vírus tipo 2, o mesmo da epidemia em curso
no Rio de Janeiro, não desenvolvem a doença.
O restante contrai a modalidade branda da dengue e, quando sobrevem
morte, ela é tardia. “Os animais infectados apresentavam
desconforto físico e alterações no plasma sangüíneo,
equivalentes à doença humana”, diz Mauro Teixeira.
A similaridade entre os quadros clínicos abrangia ainda
queda de pressão arterial, redução de plaquetas
e aumento de permeabilidade vascular, em que, devido à saída
do plasma do vaso sangüíneo, ocorre concentração
de hemácias.
O uso do antagonista do receptor do PAF reverteu todas as manifestações
clínicas da doença. Estava, assim, demonstrada a hipótese
do grupo da UFMG. Como o Fator também induz sintomas de dengue
em seres humanos, a equipe prevê que o fármaco poderá
evitará o desenvolvimento da doença também
entre a população.
“Essa é uma terapia promissora, mas temos de executá-la
dentro das normas de segurança”, pondera o professor,
que em 2007 recebeu o Prêmio Scopus por sua destacada produção
científica.
Futuro
Testes podem levar um ano
O estudo do impacto do PAF sobre os sintomas da doença
está no âmbito do Instituto Nacional de Ciência
e Tecnologia (INCT) em Dengue, também coordenado pelo professor
Mauro Teixeira.
“Estamos fazendo a síntese de um antagonista do PAFr
em condições especiais – para uso em seres humanos
– e aguardando a aprovação pelo Conselho Nacional
de Saúde (Conep) do ensaio clínico para avaliar a
segurança de seu uso em seres humanos e realizar estudos
iniciais de eficácia”, explica.
Os próximos passos, além da síntese do fármaco
para uso em seres humanos, orçada em US$ 20 mil, será
a realização de testes clínicos. O processo,
no entanto, necessita de apoio governamental para se concretizar.
“Esse é um fármaco de interesse público,
e mesmo que não se mostre eficaz, devemos preparar a infraestrutura
para testar outros medicamentos para a dengue”, alerta Mauro
Teixeira.
Segundo o pesquisador, existem vários grupos trabalhando
no tema, mas essa ainda é uma área pouco explorada.
“Atualmente há maior interesse nessa modalidade de
investigação por causa da frequência da doença
e gravidade dela. Nosso grupo é pioneiro no estudo da resposta
inflamatória e na identificação da importância
desta na infecção pelo vírus da dengue”,
conta.
O pesquisador estima que, como os testes toxicológicos
da substância já se encontram concluídos, e
novos ensaios são necessários apenas para o contexto
da dengue, o uso para a população poderá ser
viabilizado em um ano. O Pedido de patente foi depositado pela UFMG
em 2007.
Publicado em: 29/07/2009
Fonte: http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdNoticia=117193
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