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20/08/2009
 

 

UFMG faz pesquisa pioneira para tratamento da dengue

Estudo foi publicado esta semana na revista americana PNAS

da redação

Belo Horizonte. Há dois anos uma equipe de cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolve uma pesquisa que tem como objetivo diminuir a gravidade da dengue, inibindo seus sintomas mais graves e complicações clínicas.

Agora, o trabalho, coordenado por Mauro Teixeira, professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB-UFMG), recebe o devido reconhecimento com a publicação de um artigo na revista "PNAS" (Proceedings of the Nacional Academy of Sciences of the United States of America), intitulado "Essential role of platelet-activating factor receptor in the pathogenesis of dengue virus infection".

O artigo publicado na "PNAS", revista de elevado fator de impacto no meio científico. mostra que a molécula PAF (sigla em inglês para Fator Ativador de Plaqueta), agindo no seu receptor (PAFr), é fundamental para a doença dengue se manifestar nos camundongos. O estudo comprovou que uma resposta inflamatória exacerbada pode explicar a gravidade da doença.
Uma condição muito semelhante a que se observa em seres humanos: a resposta inflamatória que se segue à infecção é importante para a existência de vários sintomas e a morte causada pela dengue grave.

Bloquear a ação dessa molécula produzida pelo sistema imune é a estratégia terapêutica contra a dengue desenvolvida pelos pesquisadores. "A terapia que desenvolvemos não impede a infecção pelo vírus, mas atua como antidoença, revertendo todos os sintomas e evitando a evolução do quadro clínico típico da dengue. É possível que possa se tratar a dengue grave ao se impedir o desenvolvimento desta resposta inflamatória grave. O PAFr pode ser um dos alvos, mas ainda precisamos confirmar em seres humanos", comenta Mauro Martins Teixeira, professor do departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB.

Eficácia. O trabalho, desenvolvido em conjunto com as professoras Danielle da Glória de Souza, do departamento de Microbiologia do ICB, e Lirlândia de Sousa, do Colégio Técnico da UFMG (Coltec), já é considerado por pesquisadores como a mais eficaz proposta surgida no meio científico para combater a doença e mostra fortes evidências da aplicabilidade da terapia em curto prazo para humanos, especialmente em função de dois fatores.

Um dos aspectos facilitadores para essa transposição é o fato de o método utilizar um fármaco com uso na área médica já testado clinicamente e que não produz efeitos colaterais em humanos. "Ele foi desenvolvido nos anos 80, mas não existe como medicamento disponível em farmácia, pois não apresentou eficácia para a asma, deficiência para a qual foi formulado", relata Teixeira.

De acordo com o pesquisador, esse fármaco, administrado por via oral, atua como antagonista do receptor do Fator Ativador de Plaqueta (PAF, sigla em inglês para Platelet Activator Factor). Isso significa que ele é capaz de inibir a ação do receptor dessa molécula de lipídeo. Em decorrência de lesões sofridas pelo organismo, como aquelas causadas pelo vírus da dengue, o PAF é rapidamente produzido pelo sistema imune.

Outro aspecto salientado pelo pesquisador, sobre semelhanças do papel do mediador em organismos humano e animal, tem origem na literatura médica científica. Segundo Mauro Teixeira, já se sabia que o PAF induz sintomas que se assemelham aos da dengue, ao ser injetado em animais e seres humanos.

Eficácia
70% das cobaias infectadas pelo vírus tipo 2 não desenvolvem a doença.


Ação

Sintomas da doença são inibidos
Até o momento a pesquisa desenvolvida na UFMG conseguiu alcançar índices bastante satisfatórios. Ensaios pré-clínicos em modelos animais mostram que, com o novo tratamento, 70% das cobaias infectadas pelo vírus tipo 2, o mesmo da epidemia em curso no Rio de Janeiro, não desenvolvem a doença.

O restante contrai a modalidade branda da dengue e, quando sobrevem morte, ela é tardia. “Os animais infectados apresentavam desconforto físico e alterações no plasma sangüíneo, equivalentes à doença humana”, diz Mauro Teixeira.

A similaridade entre os quadros clínicos abrangia ainda queda de pressão arterial, redução de plaquetas e aumento de permeabilidade vascular, em que, devido à saída do plasma do vaso sangüíneo, ocorre concentração de hemácias.

O uso do antagonista do receptor do PAF reverteu todas as manifestações clínicas da doença. Estava, assim, demonstrada a hipótese do grupo da UFMG. Como o Fator também induz sintomas de dengue em seres humanos, a equipe prevê que o fármaco poderá evitará o desenvolvimento da doença também entre a população.

“Essa é uma terapia promissora, mas temos de executá-la dentro das normas de segurança”, pondera o professor, que em 2007 recebeu o Prêmio Scopus por sua destacada produção científica.


Futuro

Testes podem levar um ano
O estudo do impacto do PAF sobre os sintomas da doença está no âmbito do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Dengue, também coordenado pelo professor Mauro Teixeira.

“Estamos fazendo a síntese de um antagonista do PAFr em condições especiais – para uso em seres humanos – e aguardando a aprovação pelo Conselho Nacional de Saúde (Conep) do ensaio clínico para avaliar a segurança de seu uso em seres humanos e realizar estudos iniciais de eficácia”, explica.

Os próximos passos, além da síntese do fármaco para uso em seres humanos, orçada em US$ 20 mil, será a realização de testes clínicos. O processo, no entanto, necessita de apoio governamental para se concretizar. “Esse é um fármaco de interesse público, e mesmo que não se mostre eficaz, devemos preparar a infraestrutura para testar outros medicamentos para a dengue”, alerta Mauro Teixeira.

Segundo o pesquisador, existem vários grupos trabalhando no tema, mas essa ainda é uma área pouco explorada. “Atualmente há maior interesse nessa modalidade de investigação por causa da frequência da doença e gravidade dela. Nosso grupo é pioneiro no estudo da resposta inflamatória e na identificação da importância desta na infecção pelo vírus da dengue”, conta.

O pesquisador estima que, como os testes toxicológicos da substância já se encontram concluídos, e novos ensaios são necessários apenas para o contexto da dengue, o uso para a população poderá ser viabilizado em um ano. O Pedido de patente foi depositado pela UFMG em 2007.

Publicado em: 29/07/2009

Fonte: http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdNoticia=117193