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19/02/2010
 
 

Estudo aponta eficácia do tempol no tratamento de esclerose múltipla em camundongos

Pesquisadores do INCT de Processos Redox em Biomedicina, do Instituto Butantan e do Centro de Neurodegeneração da Faculdade de Medicina da USP obtiveram resultados expressivos ao usarem o antioxidante tempol no tratamento de camundongos com encefalomielite. Os sintomas neurológicos foram atenuados acentuadamente e a sobrevivência dos animais foi 70% maior em relação aos que não foram tratados. O trabalho foi publicado no periódico Free Radical Biology & Medicina (doi: 10.1016/j.freeradbiomed.2009.12.013).

Os resultados obtidos abrem caminho para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas baseadas em nitróxidos para o tratamento de doenças neuroinflamatórias como a esclerose múltipla, que é a mais proeminente doença neurológica crônica entre adultos jovens em áreas de clima moderado. A esclerose múltipla é uma doença inflamatória e/ou desmielinizante do Sistema Nervoso Central (SNC). A destruição da mielina prejudica a neurotransmissão e produz os diversos sintomas da doença, que é degenerativa e incapacitante. Embora suas causas ainda não sejam totalmente conhecidas, acredita-se que a escleroso múltipla seja uma doença autoimune.

Nesse estudo, os pesquisadores infectaram camundongos com o vírus de hepatite neurotrópico (MHV-59A), o que fez com que desenvolvessem uma encefalomielite que guarda várias semelhanças com a doença humana, sendo, por isso, considerado modelo animal de esclerose múltipla. Nos animais que não foram tratados, os sintomas neurológicos apareceram rapidamente e 90% deles morreram dez dias após a inoculação do vírus. Os poucos sobreviventes apresentaram déficits neurológicos. O tratamento com tempol atenuou os sintomas neurológicos, como letargia e fraqueza ou paralisia das patas, e aumentou a sobrevivência dos animais em 70%, sendo que metade dos sobreviventes continuou se comportando como camundongos normais. A integridade do Sistema Nervoso Central foi mantida, inclusive a barreira hematoencefálica (ver figura). Além disso, o tratamento diminuiu a concentração viral no SNC, a infiltração de macrófagos e linfócitos T e os níveis de marcadores inflamatórios.

Para a Professora Ohara Augusto, coordenadora do INCT de Processos Redox em Biomedicina-Redoxoma e coautora do artigo, os resultados indicam que o tempol alterou o estado redox do ambiente infeccioso, contribuindo para uma diminuição da resposta inflamatória do SNC.  

Embora seja uma resposta defensiva, a resposta inflamatória, quando exacerbada, leva ao dano do tecido nervoso. Além da esclerose múltipla, outras doenças neurodegenerativas como Alzheimer, Parkinson e Esclerose Lateral Amiotrófica possuem componentes inflamatórios e talvez possam ser atenuadas com o uso do tempol. Da mesma forma, o tempol poderia atenuar as sequelas de traumas cerebrais, que também envolvem processos inflamatórios. “Consideramos hoje que as atividades antioxidantes e antiinflamatórias do tempol são interrelacionadas, mas precisamos conhecer melhor essas relações no nível molecular para o seu eventual uso em humanos”, afirma a pesquisadora.

Embora o tempol seja um radical livre da classe dos nitróxidos, ele é bastante estável em soluções e atua de forma praticamente catalítica em fluídos biológicos. Também vários estudos em animais mostram que tem baixa toxicidade para mamíferos. Assim, o desenvolvimento de estratégias terapêuticas baseadas em nitróxidos pode ser interessante para o tratamento de algumas doenças humanas. O uso em humanos, no entanto, dependerá ainda de uma maior compreensão sobre os seus meios de ação in vivo.