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Sabe aquele projeto super legal que está acontecendo aí na sua escola e colabora, de alguma forma, para a construção de uma sociedade mais sustentável? É ele que estamos procurando!
Essa linha de pesquisa contempla ações inovadoras que acontecem dentro das escolas. Nas Webaulas anteriores falamos sobre conservação da natureza e uso sustentável dos recursos naturais, agora chegou a vez de explorarmos os termos "inovação" e "sustentabilidade".
Antes de iniciar estes temas, conheça o projeto mostrado no vídeo a seguir e responda: você acha que o projeto mostrado é uma inovação que fomenta a sustentabilidade?
A palavra sustentável tem origem no latim "sustentare", que significa sustentar, apoiar e conservar. Portanto, o termo sustentabilidade nos remete a dar suporte a alguma condição, a algo ou a alguém.
O termo Desenvolvimento Sustentável, que surgiu em 1987, é definido como o desenvolvimento econômico que é capaz de suprir as necessidades da geração atual, garantindo a capacidade de atender às necessidades das gerações futuras. É o desenvolvimento que não esgota os recursos naturais para o futuro. O conceito foi utilizado pela primeira vez no relatório "Nosso Futuro Comum", redigido pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pela Organização das Nações Unidas (ONU). A Comissão tinha como objetivo discutir e propor meios de integrar dois âmbitos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. No entanto, a ideia gerou polêmica, pois a palavra desenvolvimento nos remete a crescimento, expansão, o que nos leva a seguinte reflexão:
"Em 1961, precisávamos de metade da Terra para atender às demandas humanas. Em 1981, empatávamos: precisávamos de uma Terra inteira. Em 1995 ultrapassamos em 10% sua capacidade de reposição, mas era ainda suportável".
Leonardo Boff, em seu livro "Cuidar da Terra, Proteger a Vida".
A nossa existência deixa uma pegada no planeta. Você sabia que dá pra calcular qual é a quantidade de recursos que utilizamos de acordo com nosso padrão de consumo?
Sim, a Pegada Ecológica é uma metodologia de contabilidade ambiental que avalia a pressão do consumo das populações humanas sobre os recursos naturais. Permite comparar diferentes padrões de consumo e verificar se estão dentro da capacidade suporte da Terra.
Calcule aqui a sua pegada e saiba quantos planetas Terra seriam necessários se todos tivessem o mesmo padrão de vida que você.
Capacidade suporte da Terra é o nível de utilização dos recursos naturais que o ecossistema pode suportar, garantindo-se a sustentabilidade, a conservação de tais recursos e o equilíbrio ambiental. Este conceito está ligado ao tempo que o recurso natural leva para se regenerar, em relação à velocidade que ele está sendo utilizado pela população e, portanto, ao número de indivíduos que depende dos recursos naturais.
Se levarmos em consideração a capacidade suporte da Terra e a quantidade de recursos que a humanidade vem utilizando, aparentemente essa conta não fecha!
Todo ano é feito um cálculo para saber qual é o Dia da Sobrecarga da Terra, que representa o momento em que a demanda da humanidade por recursos da natureza ultrapassará a capacidade do planeta de se regenerar durante o período de um ano. Esse cálculo é feito pela Global Footprint Network (GFN), uma organização de pesquisa internacional que calcula a Pegada Ecológica mundial para medir os impactos de consumo humano sobre os recursos naturais. A ação teve início em 1969. Nestes quase 50 anos de cálculos, 2017 foi o ano em que o Dia da Sobrecarga da Terra chegou mais cedo, 2 de agosto. Ou seja, a partir dessa data até o início do próximo ano a sociedade se mantém utilizando recursos das gerações futuras. Assim, a existência da raça humana no planeta já não é mais sustentável.
Sabemos que a existência humana depende dos recursos naturais como água, ar, solo, alimentos e que a capacidade suporte da Terra já se esgotou. Então, a proposta de desenvolvimento sustentável seria possível?
Diante dos dados apresentados, a comunidade científica se manifestou para responder a esse questionamento, incluindo grandes nomes do campo da economia. Alguns se posicionaram a favor, outros desenvolveram teorias para explicar que essa combinação não seria possível e propuseram alternativas. Foram propostas mudanças estruturais na nossa cultura e sociedade em que o sistema econômico deixa de ser o pilar central. Nessa nova perspectiva a qualidade de vida e a conservação da natureza passam a ser prioridade e não o crescimento econômico.
Mas, o que muda?
A proposta é de se pensar em sociedades sustentáveis em vez de desenvolvimento sustentável (Diegues, 2003). É preciso ressignificar a palavra desenvolvimento, levando em consideração todas as esferas envolvidas: ambiental, cultural, política e social, e não apenas a econômica. Cada comunidade é única e deve determinar seus próprios parâmetros baseados em seus recursos e realidades, abandonando o padrão imposto pelos países desenvolvidos que tem sua concepção de crescimento baseada no consumo exorbitante de recursos naturais provenientes da exploração dos países em desenvolvimento.
A construção de sociedades sustentáveis possibilita a definição de padrões de produção e consumo e de bem-estar a partir da cultura, do desenvolvimento histórico e do ambiente natural de cada contexto, enfatizando o espaço para a diversidade de sociedades sustentáveis, desde que todas sejam pautadas pelos princípios básicos da sustentabilidade ecológica, econômica, social e política. (Diegues, 2003)
O propósito de reestruturação da sociedade traz como demanda a quebra de paradigmas antigos na busca por novos padrões e valores. Para que isso seja possível recorremos às chamadas inovações sociais. As inovações sociais buscam trazer soluções mais justas, eficientes e sustentáveis, em comparação com as soluções já existentes, como resposta aos desafios socioambientais.
Na busca por soluções mais efetivas para a construção de sociedades sustentáveis, dois australianos, Bill Mollison e David Holmgren, na década de 70, fundaram o conceito de Permacultura. Hoje o termo propõe uma "cultura permanente" e é considerado um sistema de planejamento para a criação de ambientes humanos sustentáveis e produtivos em equilíbrio e harmonia com a natureza.
Muitos projetos desenvolvidos nas escolas em busca da construção de um ambiente mais sustentável são baseados em técnicas da Permacultura. Mas antes de falar das técnicas e exemplos de projetos inspiradores, vamos conhecer os pilares e princípios dessa nova cultura mais sustentável.
Os três pilares éticos da Permacultura são:
A Permacultura se embasa em 12 princípios de planejamento que foram desenvolvidos ao longo de mais de 20 anos e publicados em 2002 por David Holmgren no livro "Permacultura: princípios e caminhos além da sustentabilidade". São eles:
Conseguiu visualizar algum projeto na sua escola que se encaixe em algum desses princípios?
Se está difícil fazer a correlação vamos dar uma forcinha. Existem vários projetos sendo desenvolvidos hoje nas escolas que são baseados em técnicas da Permacultura.
Assista o vídeo abaixo e veja como as escolas estão se tornando espaços mais sustentáveis por meio da Permacultura.
No mundo inteiro vem crescendo o número de escolas inovadoras. O programa Escolas Transformadoras é uma iniciativa da Ashoka em parceria com a organização Alana, que foi lançado no Brasil em 2015. O programa teve início nos Estados Unidos, em 2009, e de lá para cá espalhou-se por 34 países. Hoje conta com uma rede formada por mais de 280 escolas inovadoras, sendo 18 brasileiras. Muitas delas propõem práticas pedagógicas integradas com a natureza, que são verdadeiros exemplos de ações sustentáveis na educação.
A Ashoka é uma organização social global fundada em 1981 e congrega mais de três mil empreendedores sociais em 84 países. Busca colaborar na construção de um mundo em que Todos Podem Ser Transformadores (Everyone a Changemaker), onde qualquer pessoa pode desenvolver e aplicar as habilidades necessárias para solucionar os principais problemas sociais que enfrentamos hoje.
O Alana é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que aposta em programas que buscam a garantia de condições para a vivência plena da infância. Criado em 1994, o Alana é mantido pelos rendimentos de um fundo patrimonial desde 2013. Tem como missão "honrar a criança".
A Green School, que fica em Bali, na Indonésia é uma escola transformadora e um dos maiores exemplos desse movimento de sustentabilidade no ambiente escolar. Criada em 2008, a escola se baseia nos pilares da permacultura e é focada na conexão com a natureza e na sustentabilidade. Apresenta uma arquitetura diferenciada: os prédios de bambu em formato de espiral são alimentados por fontes de energia renováveis, incluindo uma micro hidrelétrica, energia solar e biodiesel, toda a água é reutilizada e os jardins são, na verdade, hortas manejadas pelas crianças. Com uma visão holística, ela integra conteúdos acadêmicos com a aprendizagem ambiental e personalizada, baseada em práticas sustentáveis. Estudantes são incentivados a desenvolver projetos socioambientais durante sua formação, disseminando assim o protagonismo e o fomento da sustentabilidade na sociedade.
Aqui no Brasil, já existem escolas referência em inovação e sustentabilidade. Além das 18 entidades que fazem parte do programa Escolas Transformadoras, 178 instituições educacionais brasileiras, entre organizações não-governamentais, escolas públicas e particulares foram reconhecidas pelo Ministério da Educação (MEC) como exemplos de inovação e criatividade na educação básica.
Veja a lista das escolas aqui.
Dentre elas, muitas têm como pilar a educação voltada para a consciência ambiental e a sustentabilidade, como é o caso da Escola da Toca, em Itirapina, São Paulo. A Escola da Toca é uma escola experimental, criada em 2009, que atende 40 crianças entre dois e seis anos, em uma composição multisseriada que utiliza a natureza e a alimentação como base da formação e a Permacultura como parte do currículo. Funciona em uma fazenda de um hectare, incluindo quintal permacultural. Visa o desenvolvimento integral das crianças, com foco em alfabetização ecológica. Sua abordagem pedagógica é baseada em três eixos filosóficos: natureza como mestra, a cultura da infância e o ser integral. Dentre as atividades desenvolvidas com as crianças estão plantio de agrofloresta, manejo de horta coletiva para alimentação da escola, construção de banheiro seco, caminhadas e brincadeiras na natureza.
A escola é um espaço privilegiado que pode proporcionar experiências capazes de contribuir com transformações sociais para a construção de sociedades sustentáveis. Os espaços educativos são capazes de formar sujeitos com senso de responsabilidade pelo mundo, aptos a assumir papel ativo diante das mudanças necessárias.
Leitura complementar: IPOEMA, Instituto de Permacultura. Introdução a Permacultura, seja responsável por sua própria existência.
Além das escolas mostradas nos vídeos e dos exemplos de escolas que têm abordagens pedagógicas voltadas para as questões ambientais, muitas escolas estão desenvolvendo projetos pontuais de ações sustentáveis. Sua escola pode ser uma delas! Se você também acha que precisamos construir uma sociedade mais sustentável o melhor lugar pra começar a agir é na sua escola. Afinal, já dizia Paulo Freire (1991): "Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo".
Quer fazer parte da transformação da nossa sociedade? Desenvolva um projeto na sua escola!
Consultora de Conteúdo: Ivy Frizo
Consultora para Percurso Pedagógico: Eliane Masseno
Coordenação: André Luiz Pinto
Revisão equipe Fundação Roberto Marinho.
BOFF, L. 2010. Cuidar da Terra, proteger a vida. Petrópolis, RJ: Vozes.
DIEGUES, A. C. 2003. Sociedades e comunidades sustentáveis. São Paulo: NUPAUB/USP, Disponível em: http://nupaub.fflch.usp.br/sites/nupaub.fflch.usp.br/files/color/comsust.pdf (Acesso: 03/10/2017).
FREIRE, P. 1991. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
HOLMGREN, D. 2013. Permacultura: princípios e caminhos além da sustentabilidade. / David Holmgren; tradução Luzia Araújo. – Porto Alegre: Via Sapiens. 416p.
SANTOS, L.; VENTURI, M. O que é Permacultura? http://permacultura.ufsc.br/o-que-e-permacultura/ (Acesso: 02/10/2017)
OLIVEIRA, M.E. 2010. Desenvolvimento Sustentável: é possível? https://www.oeconomista.com.br/desenvolvimento-sustentavel-e-possivel/ (Acesso: 02/10/2017)
A conta do planeta chegou e quem paga é você. http://www.wwf.org.br/overshootday.cfm?gclid=Cj0KCQjwjdLOBRCkARIsAFj5-GDxKo69_tFx-Fz6rEFZUP7KB5h-VO1oNtPkZ36O9ZbYzyje8lVAhFYaAhGNEALw_wcB (Acesso: 04/10/2017)
Green School: escola construída com bambu em Bali - SustentArqui - http://sustentarqui.com.br/construcao/green-school-escola-construida-em-bambu-em-bali/ (Acessado: 04/10/2017)