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A tecnologia tem ganhado cada vez mais espaço em diversas áreas e não seria diferente na conservação. Como os avanços tecnológicos podem servir ao meio ambiente? Já imaginou usar a internet para prevenir desmatamentos na Amazônia? Foi isso que os índios da etnia Paiter Suruí fizeram. Em parceria com o Google, eles criaram um mapa cultural e uma rede digital para valorização e proteção da sua cultura e território. O vídeo abaixo conta um pouquinho como foi esse processo.
Índios da Amazônia, em parceria com o Google, articularam a criação de um mapa e uma rede digital que auxilia a proteção e preservação da floresta presente dentro do seu território. (atenção no trecho entre os minutos 8 e 12!)
Tecnologia é um termo muito abrangente. De origem grega, a palavra é formada por “tekne” (arte, técnica ou ofício) e por “logos” (conjunto de saberes). Assim, a tecnologia é o conjunto dos instrumentos, métodos e técnicas que permitem a aplicação prática do conhecimento científico.
Mas do que exatamente estamos falando quando mencionamos tecnologias digitais?
Você sabia que a tecnologia digital funciona por meio da transformação de qualquer linguagem ou dado em números (0 e 1)? Uma imagem, um som, um texto, um vídeo, que aparecem para nós na forma final da tela de um dispositivo digital são traduzidos em números e lidos por dispositivos variados, conhecidos como computadores. Dessa forma, os dados são transmitidos de um dispositivo digital para outro.
As tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC’s) representam a junção entre a informática, os meios tecnológicos digitais e as telecomunicações, a fim de facilitar a difusão das informações.
Hoje em dia, o meio mais democrático para difusão de informações é a Internet, uma rede remota internacional que proporciona transferência de arquivos e dados para o mundo todo.
O advento da Internet surgiu no final da década de 60, durante a Guerra Fria, devido à necessidade do Departamento de Defesa Americano de estabelecer comunicação entre suas diferentes bases militares. O desenvolvimento dessa tecnologia foi um marco no contexto da globalização, pois permitiu a horizontalização da comunicação, descentralizando a produção e o consumo da informação, favorecendo as trocas entre os indivíduos, independentemente de distância geográfica e/ou cultural.
Você sabe o que significa as letras www que fazem parte dos endereços de sites da internet?
A web, palavra que em inglês significa rede, é um serviço que opera na Internet, utilizando protocolos de comunicação que permitem a troca de mensagens entre dispositivos como computadores e celulares do mundo todo. O conceito em inglês World Wide Web (WWW), que significa ampla rede mundial, foi criado por Tim Berners-Lee, em 1990, permitindo a partilha de uma imensa base de dados e a navegação por entre sites e páginas. (Dumas, 2015)
Estamos na era da revolução da informação. Informações que antes poderiam levar meses para chegar ao seu destino, dependendo da distância, agora são trocadas em tempo real. Em questão de segundos, conseguimos nos comunicar com pessoas que estão do outro lado do mundo. Imagine se ainda tivéssemos que esperar uma carta chegar ao seu destino? Pergunte aos seus familiares e professores(as) como funcionava a troca de informações quando eram jovens.
Agora as barreiras e distâncias geográficas não são mais um problema para a comunicação. O fácil acesso à produção e disseminação de informações desencadeou uma série de transformações sociais, econômicas e políticas em nossa sociedade, fortalecendo o movimento da globalização e a cultura digital.
A cultura digital é uma forma sociocultural que modifica hábitos, práticas de consumo cultural, ritmo de produção e distribuição da informação, criando novas relações no trabalho e no lazer, novas formas de sociabilidade e de comunicação social a partir do desenvolvimento e uso das tecnologias digitais. (Lemos, 2010)
As tecnologias digitais têm auxiliado na resolução de grandes desafios na área da conservação. A utilização de VANT ́s (veículos aéreos não tripulados), popularmente conhecidos como drones, têm revolucionado áreas da biologia como a Zoologia (estudo dos animais).
Você sabe de onde vem a palavra drone?
Drone é uma palavra inglesa que significa zangão. Os veículos aéreos não tripulados de pequeno porte ganharam esse nome devido ao zumbido que o equipamento emite quando realiza seu voo.
Os drones têm sido utilizados no combate ao desmatamento, caça ilegal, fiscalização, controle de fronteiras de unidades de conservação, monitoramento de biodiversidade, estudos ambientais, reflorestamentos e combate a incêndios florestais. A utilização desses equipamentos pode reduzir os custos destes trabalhos aumentando a viabilidade, pois dispensa a utilização de veículos e mão de obra especializada, além de possibilitar o alcance a áreas geográficas de difícil acesso.
Originalmente, os drones foram utilizados para fins militares, pois podiam atuar em situações de grande perigo e ambientes hostis. São equipamentos elétricos, com baterias recarregáveis e feitos de material resistente, comandados por controle remoto via sinais de rádio ou satélite. Podem ser equipados com câmeras fotográficas, de vídeo ou termais capazes de detectar animais por meio do calor emitido por seus corpos.
Michael MK Khor. Licença CC BY-AS 2.0A utilização dessa tecnologia vem sendo difundida e inúmeros projetos estão sendo desenvolvidos, como é o caso do Projeto Ecodrones da WWF-Brasil. Iniciado em julho de 2015, seu objetivo principal é avaliar o uso da tecnologia para diferentes aplicações na conservação da natureza. Desde a fiscalização e mapeamento em unidades de conservação, até o monitoramento de áreas degradadas e fauna. Em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e a ConservationDrones, vêm aprimorando as metodologias de monitoramento dos golfinhos de água doce da Amazônia. O vídeo conta um pouquinho de como essa tecnologia digital está ajudando nessa causa.
O Projeto de Conservação de Primatas, desenvolvido pelo Muriqui Instituto de Biodiversidade, com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, começou a utilizar drones para o monitoramento da espécie de macaco muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus). Esta espécie é considerada como "criticamente em perigo'' pela mais recente lista divulgada pelo Ministério do Meio Ambiente, pois conta com aproximadamente 900 indivíduos na natureza. Na Mata Atlântica, habitat natural da espécie, as fêmeas têm o costume de migrar entre os grupos, diferentemente dos machos, que permanecem a vida inteira em um mesmo bando. Com essa migração, as fêmeas acabam muitas vezes ficando perdidas em pequenos fragmentos da mata. O drone utilizado foi batizado de "dronequi". Ele conta com uma câmera de altíssima resolução e sensibilidade termal, própria para o monitoramento e contabilização dos grupos, além de auxiliar na localização de novos grupos e animais isolados, minimizando o risco de perdê-los e aumentando a chance de conservação da espécie.
O peixe-boi-marinho (Trichechus manatus) é outra espécie ameaçada de extinção que passou a ser monitorada por drones com o objetivo de obter dados confiáveis para elaboração de novas iniciativas para sua conservação. Um projeto realizado no litoral do Nordeste pela Fundação Mamíferos Aquáticos, com apoio da Fundação Grupo Boticário, realiza o monitoramento da espécie que permite conhecer melhor a ecologia dos peixes-boi: em quais áreas eles ficam, como se alimentam, se estão se relacionando entre si, entre outras informações relevantes. Além disso, se durante esse acompanhamento for constatada alteração clínica em algum indivíduo, ele é conduzido para o tratamento necessário.
Não é só no monitoramento da fauna que os drones têm contribuído. A área da Restauração Ecológica também ganhou um aliado. Uma empresa britânica resolveu apostar na utilização destes dispositivos para realizar reflorestamentos de forma rápida e reduzir os custos. O método de combate ao desmatamento consiste na recuperação de áreas degradadas, por meio da disseminação de sementes secas por via aérea. A eficiência da estratégia ainda não foi comprovada, mas os testes já começaram e a ideia é promissora.
Além da Zoologia, da Ecologia de Paisagens e da Restauração Ecológica outra área tem se beneficiado com a utilização de tecnologias digitais – a Ecologia de Estradas.
Você sabe o que é Ecologia de Paisagens?
Existem várias vertentes e definições. De acordo com Naveh e Lieberman (1994), a Ecologia de Paisagens é uma ciência interdisciplinar que lida com as interações entre a sociedade humana e seu espaço de vida, natural e construído. Alguns pesquisadores não identificam a Ecologia da Paisagem como uma simples disciplina ou ramo da ecologia, mas sim como uma interseção de muitas disciplinas e campos de conhecimento relacionados (geografia, ecologia, sensoriamento remoto, sociologia, economia, etc.) com um foco nos padrões espaciais e temporais da paisagem.
A Ecologia de Estradas estuda os efeitos das estradas (rodovias ou ferrovias) sobre a biodiversidade, levando em consideração os aspectos sociais e econômicos, na busca por soluções para redução da perda de diversidade e da mortalidade de espécies. É uma ciência nova no Brasil que começou a crescer a partir dos anos 2000. O atropelamento de animais silvestres é a consequência mais fatal da presença das estradas. Estimativas do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE) indicam que mais de 470 milhões de animais são atropelados todos os anos nas estradas brasileiras. Ou seja, mais de 15 animais morrem a cada segundo, somando 1,3 milhões de animais mortos por dia. A maior parte dos atropelamentos atinge pequenos vertebrados, principalmente sapos, rãs, lagartos, cobras, passarinhos, ratos.
Para aprimorar o mapeamento das áreas de ocorrência dos atropelamentos, o CBEE em parceria com a Fundação Grupo Boticário, Fapemig, ICMBIO, CNPq, TFCA/Funbio e Tetra Pak desenvolveu o Sistema Urubu, uma rede social com mais de 21 mil usuários, que tem como objetivo coletar informações sobre atropelamento de fauna. Utilizando o aplicativo Urubu Mobile, qualquer pessoa pode colaborar com a conservação da biodiversidade no Brasil, registrando casos de atropelamento de fauna que serão automaticamente georreferenciados. As informações serão utilizadas para o melhor planejamento das rodovias, no sentido de reduzir seus efeitos negativos no meio ambiente.
As áreas de Botânica e Educação Ambiental ganharam um reforço recentemente. Desde 2012, pesquisadores franceses, ingleses e brasileiros vêm trabalhando no desenvolvimento de aplicativos capazes de reconhecer e identificar espécies de plantas, por meio de fotos.
Os aplicativos de identificação são grandes avanços, porém a precisão das identificações ainda é um desafio. Como criar alternativas para resolvê-lo?
Complementar aos aplicativos de identificação de plantas, a tecnologia de QR Code vem sendo utilizada por várias instituições com a finalidade de atualizar e ampliar os dados das espécies vegetais plantadas em áreas públicas, possibilitando uma maior interação com a população, que tem a chance de conhecer os nomes científicos e usuais (vulgar) das árvores e sua possível utilização. QR Code é a sigla para Quick Response, que significa resposta rápida. É um tipo de código de barras bidimensional, que armazena informações e pode ser lido e interpretado por meio de telefones celulares e tablets que possuam câmera e um aplicativo instalado que é capaz de converter a foto tirada do código nas informações desejadas sobre a espécie de planta em questão.
Foto: deadmanjones. Licença CC BY-AS 2.0Existem ainda diversos aplicativos que colaboram com a conservação do meio ambiente incentivando a população a ter práticas diárias e escolhas mais sustentáveis.
Diante de todos esses exemplos que podem facilitar nosso cotidiano, só falta força de vontade e determinação para mudar nossas atitudes.
Se você adora tecnologia, vive navegando na internet e gostaria de ajudar o meio ambiente de alguma forma, que tal utilizar as tecnologias digitais de informação e comunicação para desenvolver um projeto? A tecnologia está a nosso serviço e as possibilidades de desenvolvimento de projetos no mundo offline são impulsionados pelos recursos online. Encontre a sua maneira preferida e faça parte da solução!
Consultora de Conteúdo: Ivy Frizo
Consultora para Percurso Pedagógico: Eliane Masseno
Coordenação: André Luiz Pinto
Revisão equipe Fundação Roberto Marinho.
Aplicativo ajuda população a preservar nascentes de rios.
Disponível em: http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2017/08/aplicativo-ajuda-populacao-a-preservar-nascentes-de-rios. (Acesso: 02/11/2017)
Dumas, V. A origem da Internet História Viva.
(Acesso: 14/12/2015).
GEWEHR, D. 2016. "Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs) na escola e em ambientes não escolares". 2016. Dissertação (Mestrado) – Curso de Ensino, Centro Universitário UNIVATES.
Disponível em: http://hdl.handle.net/10737/1576.
Lemos, A.; Lévy P. 2010. O futuro da internet: em direção a uma ciberdemocracia planetária (Paulus).
Lipparelli, T. 2016. Drones nos estudos de Fauna.
Disponível em: https://issuu.com/lpambiental/docs/drone_nos_estudos_de_fauna_ebook. (Acesso: 18/10/2017).
Naveh, Z. & Lieberman, A. 1994. Landscape ecology: theory and application. Springer-Verlag, New York.
Polisel, R. Chave de Identificação Botânica – O Aplicativo. 2016.
Disponível em: http://brasilbioma.com.br/chave-de-identificacao-botanica/. Acesso: 01/11/2017)
Ribeiro, A. L. Glossário Ceale: Tecnologia Digital. Termos de Alfabetização, leitura e escrita para educadores.
Disponível em: http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/tecnologia-digital. (Acesso: 17/10/2017).
Rodrigues, R. S.; Silva G. R. R. 2016. Utilização do QR Code coo ferramenta de gestão na identificação de espécies arbóreas do campus do IFPA- Bragança. Disponível em: http://www.ibeas.org.br/congresso/Trabalhos2016/VI-022.pdf. (Acesso: 31/10/2017)
Sistema Urubu, módulo 1: Ecologia de Estradas.
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Society for Ecological Restoration International Science and Policity working group. 2004. The SER international Primer on Ecological Restoration. www.ser.org. Tucson. Sustentabilidade: 5 aplicativos que incentivam boas práticas ambientais.
Disponível em: http://www.boavontade.com/pt/tecnologia/sustentabilidade-5-aplicativos-que-incentivam-boas-praticas-ambientais. (Acesso: 02/11/2017)