© Copyright Fundação Roberto Marinho
Na webaula 5 falamos de tecnologias digitais e como a revolução da informação tem promovido transformações na nossa sociedade, principalmente na área da conservação ambiental.
Na webaula 6 vamos explorar as transformações com foco no âmbito social e algumas causas e consequências de uma sociedade interconectada pelas tecnologias digitais.
Em termos gerais, a globalização pode ser definida como um processo de transformações políticas, econômicas e sociais que, direta ou indiretamente, interconecta o mundo todo. Esse processo social de integração das economias mundiais por meio do comércio, dos fluxos financeiros do intercâmbio de tecnologias e movimento de dados e pessoas foi acelerado pela redução de custos dos meios de transporte e comunicação, ascensão do Neoliberalismo e pela Revolução da Informação, que aconteceram entre o final do século XX e o início do século XXI. Porém, apesar de parecer algo recente, as transformações que culminaram na globalização tiveram início nos séculos XIV e XV. Os marcos históricos que influenciaram esse processo foram: a expansão do Império Romano, a descoberta de novos continentes impulsionadas pelo Mercantilismo, a colonização europeia dos continentes africano e asiático no século XIX, a Segunda Guerra Mundial e o colapso do Socialismo no leste europeu e União Soviética, no século XX.
Você lembra de ter estudado sobre o Mercantilismo nas aulas de história?
Mercantilismo é o conjunto de ideias e práticas econômicas, adotadas e desenvolvidas na Europa durante a fase do capitalismo comercial, entre a Baixa Idade Média (X a XV) e a Idade Moderna (XV a XVIII). Ao passo que as monarquias europeias foram se firmando como Estados modernos, os reis recebiam o apoio da burguesia comercial, que buscava a expansão do comércio para fora das fronteiras do continente.
Os processos de globalização afetam todas as regiões do mundo, promovendo inúmeras transformações sociais em diversas dimensões que vão desde a economia, tecnologia e política, aos meios de comunicação, cultura e meio ambiente. As transformações sociais refletem o modo como a sociedade e a cultura se transformam em resposta à mudança de fatores que nos influenciam, como, por exemplo, o crescimento econômico, guerras ou acontecimentos políticos.
Estudar as transformações sociais significa examinar os diferentes modos como a globalização, ou outros marcos de mudança da ordem mundial, interferem ao nível de comunidades locais e de sociedades nacionais com experiências históricas, padrões econômicos e sociais, instituições políticas e culturas altamente diversificadas. As transformações sociais podem produzir consequências positivas e, ou, negativas para as comunidades locais e para as nações. Sobretudo, a globalização cria novas formas de estratificação social, a nível global em que certos indivíduos, comunidades, países ou regiões se veem integrados em redes globais, enquanto outros são excluídos e marginalizados. A globalização levou um grande número de pessoas à marginalização, à pobreza e à exclusão social, tanto nos antigos países industriais como no resto do mundo. (Castles, 2002)
Na webaula 5 discutimos o surgimento das tecnologias digitais e as consequências desses adventos na sociedade atual. O desenvolvimento tecnológico e a popularização da internet, nos últimos 20 anos, revolucionou o cenário das comunicações, que sofreu significativa mudança estrutural contribuindo para o surgimento de um ambiente de convergência midiática, para a produção de conteúdos multimídia e a construção de uma rede interconectada de troca de informações em tempo real. A revolução das tecnologias da informação permitiu uma difusão cada vez mais rápida de valores culturais, aproximando pessoas e culturas, gerando impactos positivos à sociedade. O conceito de Aldeia Global está relacionado com uma rede de conexões, que deixam as distâncias cada vez mais curtas, facilitando as relações culturais e econômicas de forma rápida e eficiente.
Economistas, como o presidente executivo do Fórum Econômico Mundial Klaus Schwab, afirmam que estamos a caminho da Quarta Revolução Industrial. Um fenômeno caracterizado pela junção dos mundos físico, digital e biológico por meio das tecnologias, causando profundas transformações em nossa sociedade. De acordo com Schwab, a quarta revolução industrial não é definida por um conjunto de tecnologias emergentes em si mesmas, mas a transição em direção a novos sistemas que foram construídos sobre a infraestrutura da revolução digital. Uma transformação de alcance, profundidade e velocidade sem precedentes está ocorrendo por meio de nanotecnologias, neurotecnologias, robôs, inteligência artificial, biotecnologia, sistemas de armazenamento de energia, drones e impressoras 3D. Essa transformação irá modificar o modo de produção industrial mundial, afetando assim, o mercado de trabalho, a forma como nos relacionamos, nosso conceito de ética, as desigualdades de renda e a segurança geopolítica.
A revolução das tecnologias de informação e comunicação aproximou e interconectou pessoas do mundo todo, mas isso diminuiu as desigualdades sociais? Sabendo que a revolução da informação fortaleceu o movimento de globalização, será que as tecnologias criam mais inclusão ou exclusão social?
Apesar desse novo contexto histórico, em que as diversas regiões do globo encontram-se cada vez mais conectadas através das redes de troca de informações, ainda vivemos em uma sociedade marcada pela exclusão digital. Fenômeno caracterizado por pessoas que vivem à margem dos benefícios sociais promovidos pelas tecnologias, pelas mais diversas razões, seja por falta de acesso a dispositivos tecnológicos como computadores e celulares, pela falta de conhecimento para manusear os equipamentos ou até mesmo por falta de habilidade de escrita e leitura.
Pesquisas mostram que 66 milhões de brasileiros precisariam acumular a renda durante um período de três a oito anos de trabalho para adquirir um computador novo com configuração básica. De acordo com o relatório do Banco Mundial, embora o número de usuários da internet no mundo tenha triplicado em dez anos, cerca de 60% da população mundial ainda não têm acesso à rede. No Brasil, 48% da população não têm acesso à internet. O país é o sétimo com o maior número de pessoas offline.
Imagine quantas pessoas não têm a oportunidade de aprender com essa webaula, pois não possuem acesso à internet?
Você sabia que a palavra online é um termo em inglês que significa em linha? A expressão remete a conexão direta ou remota à internet por meio de um dispositivo eletrônico. E que o termo offline, que significa fora da linha, representa a desconexão, o inativo ou desligado?
Ao mesmo tempo em que a tecnologia contribui para aproximar as diferentes culturas, aumentando as possibilidades de comunicação, ela também gera a centralização na produção do conhecimento e do capital, pois o acesso ao mundo da tecnologia e da informação ainda é restrito a uma parcela da população. Há uma grande distância entre os indivíduos que dominam a tecnologia e se utilizam dela para produzir novos saberes e/ou ampliar o capital, e os que são apenas consumidores desses novos recursos e da gama de informações veiculada. (Mendes, 2016)
Nas últimas décadas, a sociedade está sendo marcada pela inserção das tecnologias digitais. Portanto, o uso da internet, hoje, é uma realidade necessária. Vivemos no século do conhecimento e da informação, por isso a inclusão digital faz parte do processo de inclusão social e pode contribuir para a diminuição das desigualdades.
Sabendo que mais da metade da população mundial não tem acesso a essa tecnologia, considerando que as tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) estão presentes em todos os contextos sociais e que o mercado de trabalho exige cada vez mais pessoas com habilidades no mundo digital, a escola não pode ficar distante dessa realidade e tem o papel de propiciar acesso aos saberes relacionados à tecnologia.
A educação é uma importante parceira no combate à exclusão digital. Instituições de ensino, tanto públicas como particulares, devem contribuir para o aprendizado e interação dos cidadãos e cidadãs com as novas tecnologias, sendo para isso necessária a atuação governamental e da própria sociedade (Silva-Filho,2003).
Um grande desafio para que as escolas cumpram essa função social é a limitação de escolas conectadas à internet. Para transpor esta barreira, ao longo dos anos, algumas ações foram implantadas:
E o número de escolas com laboratórios de informática vem crescendo. De acordo com o Censo Escolar do INEP de 2013, quase 90% das escolas particulares possuíam computadores com conexão à internet, enquanto apenas 50% das públicas contavam com essa infraestrutura. Hoje laboratório de informática é um recurso disponível em 82,7% das escolas públicas de ensino médio, de acordo com dados do Censo Escolar 2016.
Dessa forma o acesso às tecnologias digitais tem se democratizado, incentivando movimentos de inclusão digital e transformações em nossa sociedade. Como exemplo de iniciativa que tem utilizado as tecnologias digitais para promover transformações sociais podemos citar o Colégio Estadual José Leite Lopes, no Rio de Janeiro, que abriga a unidade escolar NAVE - Núcleo Avançado em Educação. Em 2009, a NAVE foi eleita pela Microsoft como uma das 32 escolas mais inovadoras do mundo. Trata-se de um programa de Ensino Médio Integrado Profissionalizante que une uma escola pública de ensino médio a cursos técnicos em tecnologias digitais nas áreas de Programação de Jogos Digitais, Roteiros para Mídias Digitais e Multimídia.
O projeto Aprender e Crescer, da Associação para o Desenvolvimento Tecnológico e Industrial do Sudoeste do Paraná e o curso de Capacitação Profissional para Jovens em Administração e Tecnologia da Informação, do Instituto da Oportunidade Social (IOS), em São Paulo, são exemplos de iniciativas que promovem gratuitamente cursos de qualificação profissional na área de tecnologia. As instituições visam contribuir para o crescimento pessoal e profissional de jovens de baixa renda e pessoas com deficiência por meio de capacitações e de ações socioeducativas, favorecendo as oportunidades de emprego, a promoção do protagonismo juvenil e a consciência cidadã. Os dois projetos fazem parte do Banco de Tecnologias Sociais (BTS) da Fundação Banco do Brasil.
Outra iniciativa que tem apostado nas tecnologias digitais para transformação é a plataforma Geekie, que oferece um programa diferenciado focado na aprendizagem personalizada. Funciona como um professor particular capaz de identificar aptidões, pontos fortes e dificuldades dos estudantes para montar roteiros de estudos personalizados digitais que se adequam às necessidades de cada um, potencializando o aprendizado de todos. Alternando testes e conteúdo, as habilidades de cada aluno, assim como suas dificuldades, são mapeadas e consideradas para que haja incentivo e evolução constantes.
O número de iniciativas que promovem transformações na educação utilizando plataformas digitais tem aumentado e se diversificado. A JoyStreet, por exemplo, desenvolve jogos online com fundo educativo e promove campeonatos e olimpíadas entre as escolas. Está presente em escolas públicas de ensino médio no Rio de Janeiro e em Pernambuco. O Veduca é uma plataforma de e-learning que conta com aulas traduzidas de universidades internacionais, oferecendo videoaulas, cursos de extensão, especializações e todo o conteúdo é aberto e gratuito. Conta com mais de 500 mil usuários e 5.700 aulas, em mais de 20 renomadas instituições de ensino, como Harvard, Stanford, Yale, MIT, USP, Unicamp, Unesp e UNB.
Imagina assistir às aulas das melhores universidades do mundo sem sair de casa?
Você sabe o que é e-learning?
A expressão em inglês significa aprendizagem eletrônica. O e-learning é uma modalidade de ensino à distância, utilizada para definir aprendizagem por meio de mídia eletrônica, computadores, celular e internet.
As iniciativas citadas têm o potencial de promover a redução das desigualdades sociais por meio do acesso gratuito à educação de qualidade, que só é possível devido a existência da internet e das tecnologias digitais. Por isso a inclusão digital é um movimento tão promissor no campo das transformações sociais. Porém, não é só o fator "poder aquisitivo'' que está envolvido no fenômeno de exclusão digital. Existem casos em que as pessoas têm condições financeiras de comprar um computador, porém não se comunicam nem interagem com o mundo da mesma forma que a maioria da população.
Já pensou em como é que os deficientes visuais fazem uso do computador? E as pessoas que apresentam limitações e deficiências motoras?
O DosVox é um sistema computacional, baseado no uso intensivo de síntese de voz, desenvolvido pelo Instituto Tércio Paciti, antigo Núcleo de Computação Eletrônica (NCE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob coordenação do professor José Antonio Borges. O Dosvox surgiu de um projeto de iniciação cientifica do então aluno da UFRJ, Marcelo Pimentel. É um sistema operacional que permite que pessoas com deficiências visuais utilizem um computador comum para desempenhar uma série de tarefas, adquirindo assim maior independência no estudo e no trabalho. O projeto surgiu da necessidade do próprio pesquisador, que é deficiente visual, de cursar a universidade. Em 1997, ele foi agraciado com o 1º. lugar na categoria de estudante do ensino superior no XIV Prêmio Jovem Cientista. Atualmente, conta com mais de 80.000 usuários espalhados pelo Brasil, Portugal e América Latina.
O mesmo instituto desenvolveu o programa computacional Motrix, que permite que pessoas com deficiências motoras graves, em especial tetraplegia e distrofia muscular, possam ter acesso a computadores, permitindo, assim, em especial com a intermediação da Internet, um acesso amplo à escrita, leitura e comunicação. O acionamento do sistema é feito através de comandos transmitidos por microfone. Conheça um pouco mais da história do DosVox e do Motrix.
Se você tem acesso a internet de alguma forma, seja pelo computador, celular ou laboratório de informática da escola, não tem mais desculpas para deixar de estudar algo que queira muito aprender. Está tudo ao seu alcance em um clique! Mas se você tem acesso restrito a internet ou conhece pessoas que ainda não tem acesso às tecnologias digitais, como podemos mudar essa situação? Que projetos podem ser desenvolvidos para diminuir as desigualdades sociais por meio das tecnologias digitais? Você pode usar sua criatividade e a tecnologia para promover transformações sociais que diminuam as desigualdades sociais. O mundo agradece!
Consultora de Conteúdo: Ivy Frizo
Consultora para Percurso Pedagógico: Eliane Masseno
Coordenação: André Luiz Pinto
Revisão equipe Fundação Roberto Marinho.
BARBOSA, A. F. 2001. O mundo globalizado - política, sociedade e economia. Editora Contexto, pag. 130.
CASTLES, S. Estudar as transformações sociais. Sociologia, Lisboa, n. 40, p.123-148, 2002.
Globalização – História, Evolução e Consequências na Sociedade Brasileira. Autor Claudio Renato. 2003. Disponível em: http://www.zemoleza.com.br/trabalho-academico/sociais-aplicadas/comunicacao/globalizacao-historia-evolucao-e-consequencias-na-sociedade-brasileira/. (Acesso em: 26/10/2017).
GOMES, A.J.A.; GOMES, J. P. S. B. A.; MARQUES, M.C.P.D. 2017. A integração das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) no ambiente escolar. Ágora, ano I, n 01.
INEP. 2017. Censo Escolar da Educação Básica 2016 - Notas Estatísticas. Disponível em: download.inep.gov.br/educacao_basica/censo_escolar/notas_estatisticas/2017/notas_estatisticas_censo_escolar_da_educacao_basica_2016.pdf.(Acesso: 25/10/2017).
SCHWAB, K. A Quarta Revolução Industrial. São Paulo. Edipro, 2016.
SILVA FILHO, A. M. 2003. Os Três Pilares da Inclusão Digital. Disponível em: www.comunicacao.pro.br/setepontos/2/trespilares.htm. (Acesso em: 26/10/2017).